(Ao som de Carimbador maluco – Raul Seixas)
Oi, meu filhotinho!
Fiquei décadas uns dias sem escrever, porque estávamos rodando no Rio Grande do Sul, em uma turnê para te mostrar aos amigos e parentes. Estávamos em Torres, até a última carta, depois fomos pra Cruz Alta conhecer os avós paternos. Isso era o que esperávamos, mas todo dia a gente conhecia novos parentes seus. Fiquei muito feliz em conhecê-los, porque são pessoas muito queridas e que já te amam muito. A vovó queria ficar contigo o tempo todo, você tomou banho só com ela, tava um grude só. Tão íntimo que deu um mijão de xixi nela, na parede e por onde você alcançou no quarto. Depois de ver seu avô, perdi qualquer esperança que de que você tenha alguma coisa minha (mentira, todo dia eu tento encontrar alguma semelhança nossa), você é a cara dos homens dessa família: do avô, do tio e do pai. Nem a boca que eu tinha esperança que fosse minha… nada! Tudo bem, eu só carreguei nove meses, tive aquele parto de 15 horas, NÉ?! Capaz, filho, mamãe tá brincando, você ter saúde é o que importa (e ainda vai crescer horrores, pode surgir algum traço meu…). Mas confesso que essa semana por lá me deixou com ciúmes de tanta gente me dizendo como seu olhinho era do papai, a boca do vovô, as bochechas do tio… Você teve vários momentos bacanas com tua família paterna, mas o que valeu pra mim e me deixou bem emocionada foi o seu avô contando histórias da nossa família por parte da mamãe. Sim, eu acho que nunca falei que os pais da mamãe e do papai foram amigos na juventude deles. Mas nem a mamãe nem o papai sabiam antes de ti.
Cada vez que uma coisa dessas acontece eu penso que era pra ser, era pra eu engravidar nesse momento, dessa forma, sei lá, como se eu precisasse passar por tudo isso e ainda dessa maneira. Com toda a confusão que foi, posso dizer hoje com convicção que o saldo é positivo. E que nada nesse mundo acontece por acaso.
Seu avô foi muito amigo da mãe do Tio Gaby, a minha Tia Pitita, tem muito apreço por ela, falou várias vezes sobre a perda dela. Conheceu também a vovó Carmen, meus bisas (teus tataravôs). Contou uma história do Bisa Valdir que fez meus olhos encherem de lágrimas, porque é uma história que eu escuto há anos, a Bisa Eloiza e ele sempre contavam, e o seu avô me disse que estava presente nesse dia. O bisa sempre chegava em casa, ia ao banheiro e depois direto pras panelas pra saber o que tinha pra comer. E quando a Bisa Eloiza perguntava o que ele queria, ele dizia que comeria qualquer coisa, até pedra se tivesse. Não sei o porquê, mas num belo dia resolveram fazer a tal sopa de pedras pra ele, que chegou, foi ao banheiro e depois nas panelas. Claro que ficou furioso, disse que estavam curtindo com a cara dele (não nessas palavras, óbvio). É uma história tão banal, mas tão clássica, que realmente me tocou saber que isso aconteceu mesmo (porque até então eu achava que era lenda). E ainda mais que ele falou da vovó, da Tia Pitia, dos Bisas e dos Tatas com tanto carinho e respeito… A Bisa sempre diz “não deixe rabo pra falarem de ti” e dessa vez caiu como uma luva, só coisas boas ele me disse. Antes de irmos embora de Cruz Alta, pedi para que passássemos na frente da casa em que a vovó Carmen cresceu e o Tio Gaby e a mamãe foram criados. Eis o registro da nossa casa na rua General Portinho, 954, onde fomos muito felizes:
Depois ainda passamos mais uns dias na chácara dos seus avós, onde alguns amigos da família foram te conhecer também. Mamãe está montando um álbum bem bonito com todos esses momentos que registrei. Você ganhou um burrinho de pelúcia da vovó, um conjuntinho dos tios e uns agrados do vovô (não tirei foto de todos os presentes, então só mencionarei e futuramente mostrarei em fotos você usando).
A próxima parada foi em Santa Maria. Ficamos hospedados na casa da Dinda Lu. Hospedados não é bem a palavra, já que estar mais em casa do que lá, impossível. O Tio Arthur cedeu o quarto dele e ficamos nós dois e a Dinda acampados por lá. A Tia Solange o tempo todo queria ficar contigo, num chamego só. E o Tio Bolinha era só ciúmes por todas as atenções que estavam sendo destinadas a ti. Mamãe não tá exagerando, a Tia Solange tem três filhos e ele é o mais velho e ainda com espírito de caçula – e eu tô começando a entender isso. Momento two and a half men com Tio Arthur e Tio Bolinha. E depois com a Dinda e com a Tia Solange.
Fomos na casa dos meus avós paternos, teus bisas. Ficaram muito felizes e realizados, quero muito voltar contigo muitas outras vezes lá. Mamãe teve ótimos momentos naquela casa, tenho certeza que você terá também. Quero muito te ver nadando na piscina da bisa com ela. Se tudo der certo, em breve nos encontraremos lá com a Tia Gis e a prima Júlia. A Gis é minha tia, de você ela é tia-avó haha tadinha, bem nova e com esse titulo! Mas ela gosta tanto de ti que acho que nem se importa.